Pesquisadores alemães
comprovaram que sono suficiente estimula, além da memória, a inteligência e a
criatividade. Quando dormimos, nosso cérebro continua trabalhando nos problemas
que nos ocuparam de dia.
Como muitas vezes
acontece, a ciência um dia consegue comprovar o que o bom senso já sabia e que,
no caso do sono, acabou virando expressão idiomática em alemão. "Einmal
drüber schlafen" (dormir uma noite sobre a questão) recomenda-se, entre
outras situações, quando a decisão é difícil ou o problema cabeludo.
Resolver dormindo
O psicólogo Ullrich Wagner
comprovou agora, juntamente com seu grupo de pesquisadores da Universidade de
Lübeck, que o sono ajuda mesmo a resolver questões difíceis. Para isso ele
desenvolveu um teste especial, com tarefas de matemática. Sua experiência está
descrita na última edição da revista científica britânica "Nature".
"Efeitos benéficos do
sono sobre a memória já foram provados. Mas nós estávamos atrás de uma prova de
que ele é capaz de produzir uma mudança qualitativa, um insight", expôs
Wagner. A prova de que uma noite bem dormida ajuda nesse momento importante de
fazer um conhecimento novo, uma descoberta, foi obtida com a ajuda de 66
estudantes, homens e mulheres, entre 18 e 32 anos, que receberam a tarefa de
modificar sequências de números de acordo com certas regras.
Conscientização após o
sono
Os voluntários foram
divididos em três grupos. Todos receberam as mesmas tarefas, que deveriam ser
executadas em duas fases. Um grupo pôde dormir oito horas entre a primeira e a
segunda fase. Os estudantes do segundo grupo tiveram que permanecer acordados a
noite toda e fazer a segunda parte da sua "lição" cansados e de olhos
vermelhos. Para poder comparar o efeito da exaustão, um terceiro grupo recebeu
a primeira parte da tarefa de manhã, e a segunda à noite, também sem ter
dormido durante o dia.
As séries de números foram
feitas de forma a incentivar apenas o aprendizado do procedimento, na primeira
fase. Para decifrar totalmente o sistema de números, era preciso um
"processo explícito de conscientização", segundo o psicólogo. Isso
deveria acontecer, quando muito, na segunda fase.
Resultado
O resultado foi que 60%
dos estudantes do grupo que dormiu conseguiram resolver os problemas de
matemática. O desempenho dos outros dois grupos foi bem inferior, e
curiosamente ambos ficaram pouco acima de 20%.
Mesmo tendo partido da
hipótese de que o sono desempenhava um papel fundamental no insight, Wagner
mostrou-se surpreso de que o efeito fosse tão forte. Ao que tudo indica, as
pessoas no estado normal de consciência facilmente se vêem em um beco sem saída
diante de problemas. "Para adquirir uma certa distância provavelmente é
melhor pensar no assunto à noite e depois dormir", diz.
Fases do sono
Para o diretor do estudo,
Jan Born, do Instituto de Neuroendocrinologia, os resultados confirmam análises
bioquímicas do cérebro. Estas indicam que o cérebro reestrutura as lembranças,
antes de arquivá-las. Tal processo parece influenciar de forma positiva a
criatividade. No entanto, os cientistas ainda não desvendaram como isso
acontece exatamente. Segundo Jan Born, a solução de problemas ocorre durante a
fase de sono profundo, que costuma durar as primeiras quatro horas de um sono
de oito horas.
Os resultados também
poderiam ajudar a entender os problemas de memória de pessoas de idade, que frequentemente
se queixam de dificuldades para dormir. A lenta diminuição da fase de sono
profundo também está relacionada com falhas de memória. Born e sua equipe
teriam inventado um teste muito refinado para descobrir em que momento se dá o
conhecimento, afirmam os pesquisadores Pierre Maquet e Perrine Ruby, em
comentário publicado na revista Nature.
O estudo deveria servir de
advertência aos empregadores, às escolas e autoridades em geral, já que o sono
tem enorme influência no rendimento humano. Os resultados do estudo
"fornecem uma boa razão para respeitarmos os nossos períodos de
sono", concluem.
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